Quando recebi meu diagnóstico de soropositiva aos 20 anos, soube, desde o começo, que não ia hesitar em ser visível, isto é, em contar que tinha HIV. Já conhecia minha vocação: o trabalho social.
Obtive o diploma de assistente social com orientação em pedagogia, especializada em educação. Sempre me perguntei se havia, inconscientemente, escolhido esta orientação por minha condição sorológica, já que para trabalhar em escolas o acesso ao cargo é por um ato público com base na classificação em concurso e, em nenhum momento fazem exames pré-admissionais.
Não serei discriminada por viver com HIV para ter acesso a um trabalho no campo da educação.
Trabalho em educação numa escola de educação básica e numa escola de ensino médio. Ambas são frequentadas por adolescentes e jovens. Também sou professora da matéria “Construção da cidadania”.
Desde o começo, soube que contar meu diagnóstico de HIV a meus colegas, companheiras e companheiros docentes e aos estudantes se transformaria numa ferramenta de trabalho. Também poderia entrelaçar meu ativismo em HIV/AIDS com minha militância em educação. O que facilitou este processo foi o apoio que tinha do Programa de Promoção e Prevenção do HIV/AIDS, da CTERA (Confederação de Trabalhadores da Educação da Republica Argentina).
Em 2009, com outras doze pessoas da América Latina que vivem com o vírus, protagonizei a campanha “Paixão pela vida” para a Iniciativa de Meios Latino-Americanos sobre a AIDS (IMLAS). Isto significaria uma grande mudança em minha vida e, realmente, daria maiores frutos ao meu trabalho e à luta contra o estigma das pessoas que vivem com HIV. Esta campanha era composta de um spot de trinta segundos que passava na TV aberta e a cabo, internet e rádio. Também participei na ampla difusão da campanha, que incluiu entrevistas em revistas, diários, programas de televisão nacionais e rádio. Isto implicava que seria visível nos meios de comunicação de massa, que já não contaria com o direito à confidencialidade.
Fiz um trabalho antes do lançamento em minha psicoterapia. Além disso, contava com o apoio da organização da qual faço parte, a Rede Argentina de Mulheres que Vivem com HIV/AIDS (RAMVHIS). Certamente, devo mencionar em primeiro lugar minha família, meu marido e meus amigos. Estes últimos, sem sabê-lo, contribuiriam para a luta contra o estigma das pessoas que têm HIV.
Chegou o lançamento… as entrevistas, as transmissões de televisão e rádio. Depois tinha que esperar as reações e repercussões que não tardaram em aparecer. As pessoas perguntavam se era verdade ou se era só uma publicidade, se era por isso que dava as oficinas de HIV e insistia tanto em capacitá-los no cuidado da saúde sexual e reprodutiva. Perguntavam-me como estava de saúde. A reação menos esperada foram alguns abraços espontâneos que recebi no pátio. Deram-me apoio sem dizer nada mais que “Ontem te vi na TV”. Esse também foi o caso de alguns homens de um de meus cursos depois que, um dia, uma companheira trouxe uma das revistas.
Era o motivo para voltar a trabalhar o tema e oferecer-lhes a parte testemunhal porque a estavam solicitando. Não havia razão para não incluir esta parte, já que, através de minha história de resistência, iriam concretizar os conhecimentos que haviam adquirido quanto à discriminação, o HIV, o estigma e o dia-a-dia.
Na sala de professores disseram que alguns estudantes haviam feito comentários ou que eles mesmos haviam visto alguma das entrevistas. Então, a partir disto começávamos a falar sobre o HIV, os meios de transmissão, os métodos de prevenção e a medicação.
A diretora de uma das escolas sempre comenta com certo orgulho que a assistente social da escola tem HIV, fala isso normalmente com as pessoas e internalizou isto como algo natural. As professoras de biologia me convidam para participar nas classes de educação sexual e saúde reprodutiva.
Em nenhuma ocasião vivi uma situação de discriminação dentro das escolas por parte do pessoal docente. Sempre tiveram uma atitude positiva e tentaram obter mais informação sobre o tema e o novo vocabulário que não gera estigma e discriminação contra as pessoas que vivem com HIV.
Meu caso, a conversão de uma assistente social numa referência do tema de HIV no âmbito da educação, era possível graças à aceitação e à solidariedade de meus companheiros de trabalho.
Desde que meus companheiros docentes, não docentes, estudantes da escola, as famílias e toda a comunidade educativa conheceram meu diagnóstico, me demonstraram que dar uma identidade às pessoas que vivem com o HIV serve para desarmar preconceitos e estigmas e trabalhar contra a discriminação. Favorece ainda espaços de trabalho amigáveis, especificamente na escola, onde a discriminação é vivida todos os dias por muitos outros fatores.
O âmbito educativo pode, com esforço, consciência e orientação, ser um local de trabalho de aceitação, solidariedade e dignidade para os trabalhadores que vivem com HIV.
Dedicado a Ludmila
Fonte: Jornal Digital 411 – Midia NINJA / Traduzido por Francisco Pereira