Doença foi reconhecida pelo governo dos EUA 30 anos atrás; vírus HIV seria isolado apenas em 1983,na França. Arquivo mostra desde a “psicose coletiva” com a disseminação rápida do mal quanto os sucessos de novos tratamentos “Todos os doentes são homossexuais masculinos, que não se conhecem entre si e que residem em grandes centros dos Estados Unidos.” “Os sintomas são diversos, desde uma grande fraqueza física e febre persistente até a perde de peso e de apetite. Esse quadro, aparentemente banal, transforma-se rapidamente em caso grave.” Foi assim que a Folha noticiou, Em novembro de 1982, o surgimento da AIDS, doença que viria a ser uma das grandes catástrofes epidemiológicas do século -com 1,8milhão de mortos e 33 milhões de infectados no mundo todoem2009, segundo os últimos dados disponíveis. Toda a cobertura da doença, desde sua aparição, está documentada no site do Acervo Folha (acervo.folha.com.br), que oferece a integra do arquivo do jornal. A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS, na sigla em inglês que se popularizou no Brasil; SIDA, em Portugal) teve seus primeiros casos diagnosticados 30 anos atrás, nos EUA. Em 1981, ela foi reconhecida pelo Centro de Prevenção e Controle de Doenças do país. Na época em que se publicou o primeiro texto da Folha sobre a síndrome, ainda não se sabia o que a causava. Só em 1983 o cientista francês Luc Montagnier conseguiria Isolar o vírus HIV. Num artigo publicado em maio de 1983, o jornalista científico José Reis (1907- 2002), fundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e ex-diretor de Redação da Folha, já alertava para as dimensões que a doença poderia assumir. “Por enquanto, AIDS está afetando número relativamente pequeno de pessoas, mas com alta mortalidade. E tende a alastrar-se, seguindo, para alguns,o modelo de transmissão da HEPATITE B. Teme-se, por isso, que represente ameaça aos bancos de sangue”,escreveu Reis. “PSICOSE COLETIVA” Os casos da doença evoluiriam em grande velocidade até se transformarem em motivo de pânico global. Em 7/ 6/1983, a Folha noticiou a morte do estilista Markito, primeiro caso conhecido de brasileiro vitimado HIV. E, em julho desse ano, texto de alto de página definia a reação à AIDS como “psicose coletiva”, com a estimativa de que atingiria 1,6 milhão de pessoas em cinco anos. Nos anos seguintes, o jornal daria atenção tanto à progressão geométrica dos infectados no Brasil e no mundo (“Casos de AIDS crescem geometricamente em SP”, 8/7/1984)quanto a opiniões variadas sobre o assunto. Em artigo na edição de 20 de julho de 1985, por exemplo, o antropólogo argentino Néstor Perlongher -que morreria sete anos depois, vítima da AIDS- apontava riscos de estigmatização e do que chamou “policiamento médico”dos homossexuais. MUDANÇA DE PERFIL Em 22/2/1987, a Folha publicou caderno especial sobre a doença, cujos temas eram o uso de PRESERVATIVOS e a mudança no comportamento sexual dos brasileiros. Em maio de 1988,a capa já destacava que o HIV passara a infectar mais heterossexuais; o combate à AIDS passaria a ser focado em comportamentos de risco, e não mais em “grupos de risco”. Só em janeiro daquele ano o então presidente, José Sarney, sancionou a lei que tornou obrigatórios testes anti- AIDS em transfusões de sangue. Uma contaminação por transfusão, então frequente, matara o cartunista Henfil semanas antes (5/1/1988). AVANÇO NA ÁFRICA Nas décadas posteriores, o noticiário da Folha deu amplo destaque ao surgimento de remédios contra a AIDS. Na capa de 5/11/1996,uma boa notícia virou manchete: “Morte por AIDS cai50% com coquetel”.O texto referia-se à terapia com três drogas que reduzira à metade o índice de mortalidade em centros médicos dos EUA e da Europa. A virada do século 20 para o 21 se caracterizaria pelo recuo da doença nos EUA (28/ 2/1997) e por sua expansão na África, onde as mortes causadas pelo vírus HIV já eram17milhões até 2001. Em 2003, calculava-se que as drogas anti-AIDS chegavam a apenas1% dos pacientes no continente africano. Nos últimos dez anos, o jornal registrou uma série de notícias positivas, como a quebra de patentes de remédios pelo Brasil (25/6/2005), a obtenção de uma vacina com 31% de eficácia (25/9/ 2009) e o declínio da epidemia no mundo ( 24/11/2010). |